Enchimento

6 curiosidades que provavelmente desconhecia acerca da cerâmica

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Uma das artes mais antigas da história da Humanidade, a cerâmica é um material muito próprio que apresenta características e particularidades únicas. Uma matéria com personalidade, pode dizer-se, já que nenhum ceramista negará que a cerâmica parece ter as suas próprias formas de resistência – resistência que apenas o know-how, a experiência (e, claro, uma mão atenta e cuidadosa) podem ajudar a ultrapassar.
Mostrando o quão especial é esta matéria, selecionamos algumas curiosidades do processo produtivo que, não sendo um profissional da área, provavelmente desconhecia: algumas são pura ciência, outras apenas técnicas informais, adquiridas ao longo de vários anos de experiência a trabalhar esta bela arte.

1. UMA PEÇA É COZIDA (PELO MENOS) DUAS VEZES

Em cru, a faiança é cozida acima dos 1000 graus, num processo durante o qual a pasta perde humidade e consequentemente plasticidade, tornando-se branca e rígida. Após ser decorada (vidrada e/ou pintada), a peça vai novamente ao forno, desta vez a uma temperatura mais baixa. Alguns acabamentos, como lustrinas, platinas e alguns metálicos implicam um terceiro fogo, uma cozedura adicional que permite aplicar uma efeito especial à cerâmica depois de vidrada. E uma quarta cozedura? Sim, também é possível e até bastante comum. Sempre que uma peça apresente pequenas imperfeições, esta pode ser corrigida em retoque, sendo depois levada ao forno novamente, para ter assim uma segunda oportunidade.

2. APÓS A PRIMEIRA COZEDURA, A PEÇA É CHAMADA DE “CHACOTA”

Não, não se trata de troça ou de algum tipo de zombaria. Do verbo “enchacotar”, que significa “dar a primeira cozedura à louça que será vidrada”, chacota é o nome mais correto para designar a louça cozida, mas ainda por decorar. Uma peça em chacota é rija, de tom esbranquiçado e textura áspera, mas bastante porosa e por isso muito frágil. Nesta altura, não está ainda finalizada, mas reúne as caracteristicas ideais para absorver o vidrado.

3. VINAGRE Q.B. PARA MINIMIZAR IMPERFEIÇÕES

O início do processo, no caso, a secção de enchimento, é talvez uma das etapas mais importantes na vida de uma peça de cerâmica. É aqui que muitas imperfeições e defeitos podem surgir, ser eliminados ou até minimizados. Uma imperfeição relativamente comum é a mancha de enchimento ou ponto de silicato – marcas que têm origem no enchimento, mas que apenas se tornam visíveis no corpo cerâmico após a cozedura/vidragem.
Encontrar uma destas manchas na superfície frontal de uma jarra pode arruinar todo o seu aspeto, apesar de todos os esforços das secções anteriores. Felizmente, estas marcas inicialmente invisíveis podem ser minimizadas durante o acabamento adicionando vinagre à água utilizada para esponjar a peça após a raspagem  (confuso? relembre aqui o processo de produção da cerâmica)Um truque simples mas que pode evitar problemas de maior. 

4. O VIDRO É LÍQUIDO

Um vidrado cerâmico, ou como commumente chamado, um vidro, pode definir-se como uma camada de revestimento que é aplicada no corpo cerâmico através de técnicas de mergulho ou spray e que se funde com a cerâmica durante a cozedura. Apesar de se aproximar daquele que é o aspeto do vidro como o conhecemos, o vidrado cerâmico é aplicado em estado líquido, o único estado que permite que esta aplicação seja feita de forma a cobrir a peça na sua totalidade. Durante a cozedura, esta camada líquida vitrifica, adquirindo os aspeto vítreo que o define.

5. UMA PEÇA DE CERÂMICA TAMBÉM ENVELHECE

Não são apenas os humanos que carregam os efeitos da passagem do tempo: também uma peça de cerâmica pode adquirir “rugas”. Estas são nada mais do que o conhecido craquelé cerâmico, pequenas rachas que, ao longo do tempo, vão abrindo no vidrado, formando um género de rede de finas rachas, na maior parte dos casos pouco perceptíveis. Um efeito bastante curioso que é intencionalmente replicado em algumas decorações, permitindo oferecer um toque de memória a uma peça de cerâmica acabada de nascer.

6. A FAIANÇA NÃO É IMPERMEÁVEL

Uma verdade muitas vezes inconveniente: “Como é possível a faiança não vedar líquido se se tratam de jarras, para flores, que precisam de água para sobreviver mais tempo?” Enquanto matéria-prima, a faiança não à prova de água. Mesmo após a cozedura, por ser uma pasta porosa, este tipo de cerâmica apresenta poros impercetíveis que vão permitir a absorção do líquido em contacto com a água.  Felizmente, a peça não está terminada após a primeira cozedura – falta o vidrado, tão característico da faiança. Para além de dar cor e carácter (saiba mais sobre vidrados cerâmicos), ao criar uma camada vítrea sob a superfície, pode impermeabilizar e vedar a peça. Saiba mais em “Cerâmica resistente à água? Sim ou não?”.